domingo, 25 de agosto de 2013

A Presença

Uma antiga história conta que o profeta Elias, quando perseguido, foi se encontrar com Deus na monte Horeb. Ele passou a noite em uma gruta e, no dia seguinte, saiu para a montanha. Uma tempestade passou por ele, mas Deus não estava na tempestade. Depois veio um terremoto, mas Deus não estava no terremoto. A seguir, um incêndio devastador, mas Deus não estava no fogo. Então, no meio de uma brisa suave, ele ouviu: "o que fazes aqui, Elias?".



Poucos são os que tiveram a chance, como Elias, de ouvir uma voz tão clara, um indício irrefutável de uma inteligência superior e presente. Eu estou entre os muitos que nada ouviram. Mas ainda assim, ao longo de meus anos, desde a infância, tenho reconhecido que estou na companhia de alguém.

Ele ou ela teve muitos nomes enquanto eu crescia. Já a chamei de Maria, ou de algum anjo. Já achei que fosse um alienígena não preso às amarras desta dimensão de tempo e espaço. Quando trilhava caminhos do racionalismo científico, considerei que se tratava apenas de uma projeção ou delírio de minha mente. Depois pensei que fosse um espírito de luz. Os últimos nomes que lhe dei foram Jesus ou Espírito Santo. Mas ele resistiu a todas as minhas tentativas de sondar sua natureza. Hoje não tento mais descobrir e dar nomes. Hoje compreendo que sou como a formiga a tentar desvendar o segredo da floresta. Hoje o chamo apenas de a Presença.

São nos momentos de desafio que a Presença se torna mais forte. Como quando a vida tenta despertar em mim sentimentos de raiva ou mágoas, a Presença vem e os dissolve. Quando sou afligido pela solidão, a Presença me conforta e me fortalece. Se caio na ilusão de imaginar que uma situação não tem mais saída, a Presença abre portas que pareciam fechadas. Não sou perfeito, santo ou merecedor da Presença. Talvez Ela só esteja comigo porque, sem Ele, eu não conseguiria caminhar.

Assim como Elias só ouviu a voz na brisa suave, eu também preciso fazer silêncio para tê-la. Não adianta achar que Ele está na tempestade da empolgação. Não adianta imaginar que Ela virá abalando os alicerces, jogando todos por terra. Não adianta pensar que um fogo irá consumir todo o quadro ruim que já foi desenhado. Tenho que sintonizá-la em uma frequência bastante sutil.

Ela não me obriga a tomar nenhuma decisão certa ou errada, e por isso não me livra das consequências dos meus atos. Pode ser que Ele me proteja, mas sei que não impedirá minha morte. Antes de alguns tropeços Ela me fez ver as pedras. Em alguns caminhos difíceis, Ele me conduziu pelas mãos. Quem sabe Ela seja apenas a personificação de minha memória ou de minha percepção subconsciente. Quem sabe Ele seja Deus. Gostaria mesmo de saber sua natureza. Mas agora isso pouco importa. Só importa que Ele ou Ela esteja comigo.

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