segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Segredo

Ela passou por mim usando um véu e um vestido branco, e eu soube instintivamente que deveria lhe contar o segredo. Ainda não conhecia seu nome, nem ao menos havia podido ver seu rosto nitidamente. Mesmo assim comecei a seguir seus passos, pois era importante lhe contar.

Seguindo-a, fui levado a desertos onde vales e montanhas se alternavam. Às vezes, deslumbrado pelo aspecto de uma paisagem, eu me esquecia do segredo por alguns momentos. Mas logo retomava o caminho, pois ainda não tinha lhe encontrado.

Caiu a chuva fina.

Apertei o passo, tentando me aproximar, mas foi em vão. Em meu rosto, sentia um vento leve. Os desertos ficaram para trás, e agora atravessávamos grandes campos gramados. Quando parei por um instante, tentando calcular a imensidão desses campos, me dei conta de que não conseguia mais me lembrar do segredo. Ainda assim, sabia que precisava encontrar aquela pessoa, pois tinha algo a lhe dizer. Então, prossegui.

A chuva se intensificou. A brisa se transformou em vento forte.

Deixamos os campos para trás. Estávamos agora em uma floresta repleta de árvores e um rio. Eu já não andava, mas corria para alcança-la, fazendo meu caminho por entre as clareiras. Quanto mais eu corria, mais a chuva e o vento se tornavam impetuosos. Começaram a surgir relâmpagos. Inicialmente eles caiam espaçados, mas não demorou para que viessem em ritmo frenético. E eu não conseguia alcança-la.

O som dos trovões se misturava ao barulho ensurdecedor da chuva caindo sobre as folhas, e à corredeira desenfreada do rio...


O Rio!

Agora, o Rio era o obstáculo. Lá estava ela, na outra margem. Eu não tinha como atravessar aquelas correntezas, então parei. Ela também parou.

Neste momento, o vento cessou, a chuva foi embora e o rio desapareceu. De alguma forma, percebi que eles tinham sido necessários. Não poderíamos nos encontrar antes daquele momento. Não poderíamos nos encontrar em outro lugar. E eu não poderia alcança-la sem enfrentar as forças da natureza.

Dei alguns passos, ainda sem ver seu rosto. Me incomodava o fato de não me lembrar mais o que eu deveria dizer. Mas o que isto importa? Eu estava lá, havia vencido desertos, campos, chuvas, florestas, ventos, trovões. Só o Rio eu não transpus, e isto coube a ela eliminar. 


Continuei caminhando. Ainda não sabia o que dizer. Mas talvez não fosse eu a falar. Quem sabe fora ela quem me trouxera até ali. Estando bem próximo, ela se virou, retirou o véu e me contou o segredo.

* baseado em sonhos lúcidos

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